entre os mundos

Como eu me sinto? É difícil dizer. Não sei ao certo.

Parece que falta alguma coisa. Ao mesmo tempo que eu não quero nada.

Chega! Não quero falar o que eu penso! É tudo muito feio e triste para se dizer. Não vou expor ao mundo. Sou um monstro por dentro. Tantas coisas imundas. Não quero deixá-las sair. Não por mim. Eu sou um guardião para tudo isso. Preciso manter o controle. Não posso deixar as trevas me dominarem. Minha consciência deve ser forte, deve prevalecer.

Instintos vis, eu os deterei dentro de mim!

Não gosto de pensar nas coisas horríveis que poderia fazer. Todas as maldições, maldades, pragas, mortes, ferimentos, sofrimento e dor que eu causaria. E o pior, que eu adoraria causar.

Não! Não sou eu! Isso não sou eu!

Posso sentir as mais lindas sensações, como um anjo que passa e deixa sua presença de amor e paz inundar um ambiente. Mas também posso sentir emoções e ter pensamentos terríveis, compulsões, desejos loucos de destruição, de ver tudo queimar e apodrecer, sangrar e se extinguir.

Da mesma forma, percebo a total perdição de almas que não sabem para onde ir, se desejam o bem ou o mal. Que assim como eu, só querem um caminho para seguir. Que suas feridas sejam curadas e as memórias esquecidas, ficando apenas o estado de letargia.

Mas não existem caminhos prontos, nem ninguém que possa te guiar se você não pede socorro ou se você não o aceita. Não há quem possa te ajudar se você quer continuar perdido.

Basta que deseje algo, melhor ou pior, e suas vibrações energéticas lhe trarão experiências com as mesmas energias. Por isso prefiro meditar, orar e pedir aos Deuses que reforcem minha fortaleza e me façam forte para suportar as energias que me invadem, para que eu não me perca entre elas.

Que eu continue sabendo quem eu sou.

Nem sempre tomo esse cuidado e então me vejo novamente entre aquelas almas perdidas. Sua confusão, solidão e desânimo me invadem e me vejo como elas. Seus sentimentos aumentam minhas próprias tendências emocionais. Sou como uma esponja para tudo ao meu redor.

Ás vezes fico tão cheio de tudo que não percebo a tristeza de um amigo ou se percebo prefiro me afastar para que eu não me perca ainda mais. Ou ainda, para que eu não leve este amigo para um poço mais fundo e mais escuro. Pois eu posso ir até lá e voltar com as vestes tão limpas quanto antes ou quase. Não entendo estas propriedades. São poderes que me fogem à compreensão. Mas sei que nem todos podem. Muitos se fecham na escuridão. No entanto, eu continuo aberto para tudo ao meu redor. Basta que me ligue com as energias certas e me modifico por completo.

A energia de uma árvore é capaz de me levar até campos desconhecidos de energia. Uma cachoeira, um campo e uma floresta podem me deixar em êxtase. Eu amo esta vibração que vem da natureza. Me deixa calmo, feliz, poderoso, conectado ao Universo. Fico sozinho mas me sinto em paz e não sinto solidão. Este é o meu porto seguro.

Portanto, preciso treinar minha consciência, disciplinar meus pensamentos e emoções, para que eu não seja levado num turbilhão para lugares desconhecidos por energias desconhecidas. Não significa que devo me fechar para o mundo. Poderia fazer isso se quisesse. Mas isso também significaria perder esta sensibilidade. Acho melhor desenvolver este dom e ter controle sobre ele.

Todos têm sensibilidade para o sobrenatural. É parte natural do que somos, assim como os outros sentidos. Algumas pessoas, têm essa sensibilidade aumentada. Isso é tanto uma dádiva quanto uma maldição. É uma faca de dois gumes. Pois assim como acontence com os outros sentidos, você pode ver, ouvir, degustar, cheirar e tocar coisas boas e ruins. Porém você pode decidir o que quer sentir. A verdade é que a maioria das pessoas simplesmente prefere não sentir.

Fonte: Tiago Andrade